sábado, 28 de janeiro de 2012

Cortina de Fumaça – 1


A noite havia sido intensa. Tanto para a jornalista, quanto para seu caso recém arrumado, Patrick. Haviam se conhecido num cassino durante a noite passada, ela correndo atrás de mais um caso de assassinato, e ele, pra fazer o que faz melhor: curtir a vida. Ao contrário da mulher, preocupada com o filho, com o trabalho, grande parte do tempo nervosa e irritada, Patrick era o típico bom vivant. A família havia deixado tudo o que ele necessitava, e com seu absurdo charme, ele simplesmente conseguia tudo aquilo que queria: informações.  No submundo do crime, era conhecido como Mercador.
Ele poderia vender tudo o que se quisesse comprar.


Ao acordar, Patrick sentiu cheiro de ovos com bacon. Nossa, como ele adorava aquela comida... E há quanto tempo ele não a comia? Nossa, desde a morte dos pais. Levantou-se, só de cuecas e seguiu até a cozinha do pequeno apartamento, e lá estava, vestida apenas com uma camisa dele, uma das mulheres mais belas que ele já havia visto: Angelinne. A loira trazia os cacheados cabelos presos num rabo de cavalo, e dançava ao som de We Don’t Need Another Hero, da Tina Turner, enquanto cozinhava os ovos, e os colocava nos pratos. Enquanto ela dava a última tragada em um cigarro já acabando, foi surpreendida por um abraço.

- Bom dia, senhora jornalista...

- Bom dia, senhor ricaço. Tomei a liberdade de preparar um café preto pra mim, e resolvi cozinhar um pouco. – Ela disse, soltando a fumaça e apagando o cigarro num cinzeiro ao lado. – Espero que esteja do seu agrado.

Ele suspirou, sentindo o perfume dela e dando uma leve lambida em seu pescoço, ao que se afastou. Pode ter certeza que está.

Angelinne deu um ar de riso, enquanto levou as coisas para a mesa, e logo se endereçou à sua bolsa. Seu celular acabara de bipar, uma mensagem recebida. Enquanto lia, suas mãos foram involuntáriamente ao maço de Lucky Strike vermelho que trazia sempre consigo, levando um cigarro aos lábios, e se virando para Patrick, ainda com ele nos lábios.

- Gatinho... – Foi em direção ao fogão. – Infelizmente eu vou ter que correr. – Acendeu o cigarro na chama do fogão, e, continuou com o mesmo pendente. – Acabei de receber uma mensagem do chefe.

- Você deve estar brincando, né? Achei que fôssemos repetir a dose de ontem mais à noite...

- Infelizmente... – Ela deu uma tragada forte – não vai dar. – Soltou a fumaça, e colocou a bolsa por cima dos ombros, só então retirando o cigarro da boca. – Mas não deixe de me ligar... Gostoso.

E saiu, pela mesma porta que havia tão fogosamente entrado. Patrick, então, olhou para o cartão dela:

Angelinne Jonnes, Jornalista.

Tudo o que ele não precisava era de holofotes em cima de sua cabeça... Mas que ele sabia que brincar com aquela mulher seria brincar com fogo, isso ele tinha completa certeza.

-

Angelinne apagou o cigarro, pisando no filtro já no final, enquanto entrou no prédio do jornal, soltando a fumaça para cima. Ao pegar o elevador, ouviu diversos comentários das pessoas, seu instinto perceptivo por vezes a surpreendia. Desde reclamarem do cheiro de cigarro no elevador, à ela saber que o pessoal que trabalha junto com a narcóticos anda meio complicado, desde que uma das jornalistas entrou numa vibe perigosa com heroína.

“Se eles soubessem...” pensou a loira, enquanto refreou movimentos involuntários de sua mão.

Ao sair do elevador e entrar na parte jornalística que trata de homicídios é recebida por Laura, secretária do departamento, que vem cheia de sorrisos.

- Angie, você não vai acreditar.

- Fala logo, antes que eu desça pra tomar um café e fumar um cigarro...

- Pode ficar tranqüila, vai passar o dia quase todo na rua.

Os olhos da jornalista brilharam.

- E por quê?

- Porque temos um novo assassino serial na cidade. E, só na noite passada, ele já matou três pessoas, da mesma forma. E como eu presumo que você tenha tido uma noite não proveitosa no caso anterior...

Angelinne revirou os olhos. De fato a noite fora proveitosa, mas não no caso. O gangster chamado de Magnata não apareceu por lá...

-... eu presumo que o chefe mandou me alocar pra esse caso, certo? – Completou a jornalista.

- Certíssima. – Disse a secretária, entregando as pastas.

- Devo presumir que tem bastante sangue?

- Como você adora.

- Ótimo, vou lá em baixo tomar um café e analisar as coisas.

- À vontade.

Já indo em direção ao elevador, e com um cigarro apagado na boca, Angelinne grita.

- Não me espere pro jantar, querida. Alguém tem que trabalhar nessa porra!

- Angelinne, vai se... – as portas do elevador fecharam, enquanto a loira ria.

-

Patrick se aproximava calmamente do bar da esquina de sua casa. Vestia-se bem, com um jeans leve, e uma camisa social aberta, o típico bom vivant. Ao entrar no bar, sentou-se na mesa de sempre, pediu uma cerveja e esperou, seu contratante logo estaria ali.
Enquanto esperava, Patrick se pegou pensando na noite anterior, como sua mão leve ao roubar o isqueiro de uma mulher e se oferecer para acender os cigarros da mesma o levaram a uma belíssima noite de sexo ardente... Pena que ele esteve com ela apenas por trabalho. Diversão, também... Mas era principalmente trabalho.

O homem vestindo terno escuro se aproximou da mesa, e se sentou, de frente para Patrick.

- E então?

- Está tudo – o homem levantou os olhos por trás dos desgrenhados cabelos negros, enquanto estendia uma pastas de documentos ainda quentes de sua impressora à laser – aqui. – Quando o engomadinho sentado à sua frente estendeu a mão para pegar, Patrick afastou a pasta. – Nosso acordo primeiro.

Uma grande maleta foi colocada na mesa, de frente para o homem. Ao abrir, continham algumas notas, altas, as quais Patrick nem deu atenção. Foi direto à chave, e a olhou com atenção.

Só então, passou a pasta para o homem.

- Então, Magnata... O que pretende fazer com a jornalista?

- Não é da sua conta. Nesse poste você não vai mijar, cachorro... – Se levantou, olhando com desdém. – Já tem seu pagamento, e as chaves de onde prendi sua pequena priminha. Agora, não se meta...

Patrick estava de pé, e o olhava nos olhos. Uma raiva ancestral podia ser vista através das íris acobreadas, que fizeram o Magnata suar.

- Não maltrate o filho dela, ou vai se ver comigo. – Soltou. Vá embora e não apareça mais no meu território.

O Magnata saiu, e Patrick não passou bem o dia inteiro.
Ele não havia feito o certo, e agora precisava pensar.

Essa noite, o lobo iria correr.







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