A noite havia sido intensa.
Tanto para a jornalista, quanto para seu caso recém arrumado, Patrick. Haviam
se conhecido num cassino durante a noite passada, ela correndo atrás de mais um
caso de assassinato, e ele, pra fazer o que faz melhor: curtir a vida. Ao
contrário da mulher, preocupada com o filho, com o trabalho, grande parte do
tempo nervosa e irritada, Patrick era o típico bom vivant. A família havia
deixado tudo o que ele necessitava, e com seu absurdo charme, ele simplesmente
conseguia tudo aquilo que queria: informações.
No submundo do crime, era conhecido como Mercador.
Ele poderia vender tudo o que
se quisesse comprar.
Ao acordar, Patrick sentiu
cheiro de ovos com bacon. Nossa, como ele adorava aquela comida... E há quanto
tempo ele não a comia? Nossa, desde a morte dos pais. Levantou-se, só de cuecas
e seguiu até a cozinha do pequeno apartamento, e lá estava, vestida apenas com
uma camisa dele, uma das mulheres mais belas que ele já havia visto: Angelinne.
A loira trazia os cacheados cabelos presos num rabo de cavalo, e dançava ao som
de We Don’t Need Another Hero, da Tina Turner, enquanto cozinhava os ovos, e os
colocava nos pratos. Enquanto ela dava a última tragada em um cigarro já
acabando, foi surpreendida por um abraço.
- Bom dia, senhora jornalista...
- Bom dia, senhor ricaço. Tomei
a liberdade de preparar um café preto pra mim, e resolvi cozinhar um pouco. –
Ela disse, soltando a fumaça e apagando o cigarro num cinzeiro ao lado. –
Espero que esteja do seu agrado.
Ele suspirou, sentindo o
perfume dela e dando uma leve lambida em seu pescoço, ao que se afastou. – Pode
ter certeza que está.
Angelinne deu um ar de riso,
enquanto levou as coisas para a mesa, e logo se endereçou à sua bolsa. Seu
celular acabara de bipar, uma mensagem recebida. Enquanto lia, suas mãos foram
involuntáriamente ao maço de Lucky Strike vermelho que trazia sempre consigo,
levando um cigarro aos lábios, e se virando para Patrick, ainda com ele nos
lábios.
- Gatinho... – Foi em direção
ao fogão. – Infelizmente eu vou ter que correr. – Acendeu o cigarro na chama do
fogão, e, continuou com o mesmo pendente. – Acabei de receber uma mensagem do
chefe.
- Você deve estar brincando,
né? Achei que fôssemos repetir a dose de ontem mais à noite...
- Infelizmente... – Ela deu uma
tragada forte – não vai dar. – Soltou a fumaça, e colocou a bolsa por cima dos
ombros, só então retirando o cigarro da boca. – Mas não deixe de me ligar...
Gostoso.
E saiu, pela mesma porta que
havia tão fogosamente entrado. Patrick, então, olhou para o cartão dela:
Angelinne Jonnes, Jornalista.
Tudo o que ele não precisava
era de holofotes em cima de sua cabeça... Mas que ele sabia que brincar com
aquela mulher seria brincar com fogo, isso ele tinha completa certeza.
-
Angelinne apagou o cigarro,
pisando no filtro já no final, enquanto entrou no prédio do jornal, soltando a
fumaça para cima. Ao pegar o elevador, ouviu diversos comentários das pessoas,
seu instinto perceptivo por vezes a surpreendia. Desde reclamarem do cheiro de
cigarro no elevador, à ela saber que o pessoal que trabalha junto com a
narcóticos anda meio complicado, desde que uma das jornalistas entrou numa vibe
perigosa com heroína.
“Se eles soubessem...” pensou a
loira, enquanto refreou movimentos involuntários de sua mão.
Ao sair do elevador e entrar na
parte jornalística que trata de homicídios é recebida por Laura, secretária do
departamento, que vem cheia de sorrisos.
- Angie, você não vai
acreditar.
- Fala logo, antes que eu desça
pra tomar um café e fumar um cigarro...
- Pode ficar tranqüila, vai
passar o dia quase todo na rua.
Os olhos da jornalista
brilharam.
- E por quê?
- Porque temos um novo
assassino serial na cidade. E, só na noite passada, ele já matou três pessoas,
da mesma forma. E como eu presumo que você tenha tido uma noite não proveitosa
no caso anterior...
Angelinne revirou os olhos. De
fato a noite fora proveitosa, mas não no caso. O gangster chamado de Magnata
não apareceu por lá...
-... eu presumo que o chefe
mandou me alocar pra esse caso, certo? – Completou a jornalista.
- Certíssima. – Disse a
secretária, entregando as pastas.
- Devo presumir que tem
bastante sangue?
- Como você adora.
- Ótimo, vou lá em baixo tomar
um café e analisar as coisas.
- À vontade.
Já indo em direção ao elevador,
e com um cigarro apagado na boca, Angelinne grita.
- Não me espere pro jantar,
querida. Alguém tem que trabalhar nessa porra!
-
Patrick se aproximava
calmamente do bar da esquina de sua casa. Vestia-se bem, com um jeans leve, e
uma camisa social aberta, o típico bom vivant. Ao entrar no bar, sentou-se na
mesa de sempre, pediu uma cerveja e esperou, seu contratante logo estaria ali.
Enquanto esperava, Patrick se
pegou pensando na noite anterior, como sua mão leve ao roubar o isqueiro de uma
mulher e se oferecer para acender os cigarros da mesma o levaram a uma
belíssima noite de sexo ardente... Pena que ele esteve com ela apenas por
trabalho. Diversão, também... Mas era principalmente trabalho.
O homem vestindo terno escuro
se aproximou da mesa, e se sentou, de frente para Patrick.
- E então?
- Está tudo – o homem levantou
os olhos por trás dos desgrenhados cabelos negros, enquanto estendia uma pastas
de documentos ainda quentes de sua impressora à laser – aqui. – Quando o
engomadinho sentado à sua frente estendeu a mão para pegar, Patrick afastou a
pasta. – Nosso acordo primeiro.
Uma grande maleta foi colocada
na mesa, de frente para o homem. Ao abrir, continham algumas notas, altas, as
quais Patrick nem deu atenção. Foi direto à chave, e a olhou com atenção.
Só então, passou a pasta para o
homem.
- Então, Magnata... O que
pretende fazer com a jornalista?
- Não é da sua conta. Nesse
poste você não vai mijar, cachorro... – Se levantou, olhando com desdém. – Já tem
seu pagamento, e as chaves de onde prendi sua pequena priminha. Agora, não se
meta...
Patrick estava de pé, e o
olhava nos olhos. Uma raiva ancestral podia ser vista através das íris
acobreadas, que fizeram o Magnata suar.
- Não maltrate o filho dela, ou
vai se ver comigo. – Soltou. – Vá embora e não apareça mais no meu território.
O Magnata saiu, e Patrick não
passou bem o dia inteiro.
Ele não havia feito o certo, e
agora precisava pensar.
Essa noite, o lobo iria correr.
Senti que a Angie vai ser ferrar!
ResponderExcluirMuito bom, só falta escrever mais!